terça-feira, 19 de março de 2013

Na hora de pôr a mesa




na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais 
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde 
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
***
(José Luís Peixoto)

(Poema dedicado ao meu querido pai, ao qual me permito fazer uma ligeira alteração que o autor com certeza não leva a mal.
Lá em casa, na hora de pôr a mesa éramos seis. E enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre seis... mais os genros, a nora e os netos que reforçam o seis.  Esse número mágico que nos identifica mesmo após a sua partida.)