
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
*
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
*
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
*
Depois... Pergunta a Deus
porque me deram o que me deram
e porque depois conheci a solidão do céu e da terra.
*
Olha, minha juventude foi um puro botão
que ficou por rebentar
e perde a sua doçura de seiva e de sangue.
*
O sol que cai e cai eternamente cansou-se de a beijar...
E o Outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
*
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
*
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
***
(Pablo Neruda)
(Poema lindíssimo que dedico ao meu pai com eterna saudade.)