Primeiro a tua língua molha o meu
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os copos que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-
-me. O laser das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O empregado do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrina,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas
das palavras, estremecendo no suor dos
olhos abraçados, fazendo sexo
com a lava incandescente dessa revolução
imprevista a que damos o nome de amor.
***
(Inês Pedrosa)
4 comentários:
olá. vou @r esta "pouca vergonha" :)
Encantada com seus versos
desejo
Linda nova semana.
Bjins
CatiahoAlc/ReflexodAlma
Obrigada, Reflexo d'Alma.
Ainda bem que gosta pois é com essa intenção que mantenho este Jardim. A de divulgar e partilhar poemas que considero lindos.
Obrigada e uma boa semana também para si.
Beijinhos.
Olá, José Luís :)
Esta é uma "pouca vergonha" muito linda!
Acredite que é um dos poemas que mais gosto entre os muitos que já aqui tenho.
Obrigada pela sua visita.
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