
A beleza das flores de mãos dadas com a poesia. A fragilidade das suas pétalas em harmonia com a força das palavras.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Além da Terra, além do Céu

Um dia virei
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Húmido de beijos e de lágrimas

(Porque hoje é um dia especial entendi que mereço um poema especial do meu poeta favorito para assinalar esta data. Escolhi este, mas podia ser qualquer um porque toda a sua obra é perfeita e bela.)
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Boas Festas
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Nesta curva
Sacode as nuvens

Estudo de nu

Amanhã

Cântico

Despedida

Presídio

quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Rodopio

A luz que vem das pedras

A ti

Retrato do herói

Contemplo o que não vejo

terça-feira, 1 de novembro de 2011
Pai, a minha sombra és tu

quarta-feira, 26 de outubro de 2011
O anjo e o vitral

Miopia

Aprendiz na oficina da poesia

Timor

Algumas e outras

Sem você...

terça-feira, 25 de outubro de 2011
O tempo e o mar

Era um homem, a sombra de um homem e
caminhava para o mar.
Estas pegadas
são o obscuro rumor do tempo
e o tempo é uma vara oblíqua nas mãos de deus.
Que fará um homem com as dores do mundo,
com a última gota dos cálices ao lado da noite?
Reconstruir o teu rosto da amada
dar vida à sua silenciosa vida?
Matar,
no súbito ardil do Outono, os vestígios de uma
palavra secreta?
Há uma cidade profunda onde em profunda água
ela o esquece.
Quem para o mar caminha
leva consigo a maldição das ilhas com um
lírio quebrado, uma ânfora de pólen,
um adeus.
***
(José Agostinho Baptista)
O cão continua coxo

Nasce o dia de ideias políticas e de finanças
percebe a malta do leste ou a leste da malta se
contentam estatísticas e marinheiros próprios
do sábio descendente,
com isso se incute a perversão no
chefe da sua armadilha
no homem permitido ao morcego rotinando
os lagos
e os lembretes
afinal quem se recorda do dia em que a luz se fez luz ?
E que textos destrinçam os astronautas na visibilidade do espaço?
Não se lembram nem se afogam sem um limiar
e das finanças que a malta concebe
não se conjura o semblante de cada livro editado;
o cão continua coxo
o automóvel continua roxo
o ardil continua um mocho
e a estatística entende-se como própria dos encontros à beira-mar,
senta-se na areia
desenha para que o mar entenda o que se esvai
e a cada dia mais dias nascem e novas estatísticas
multiplicam outras tantas,
a malta do leste cada vez mais percebe
o leste da malta cada vez menos se inverte pela
tradição oral,
a língua condiciona o ardente ciúme
de quem fez lume por se lembrar
houve, afinal, um dia em que a luz se fez luz
mas era microscopicamente visível nos corpos distantes
e logo se condenaram as ampliações em marasmos
insignificantes de salões de chá
os astronautas dizem livros editados,
são flores cozinhadas pelo rubro medo do espaço
em que se plantam tanto finanças
como estatísticas, dicionários e solfejos arquejando
um abutre nos símbolos
o médium é agora o nome
onde a criança preenche o tédio civilizado
e nem do espaço é visível
a lembrança do lume ampliado
tudo é um livro editado
sem que isso fume a maior devoção
pois dentro de si amam os novíssimos amantes,
com claves de Fá inspiram com
abecedários expiram
e reluzir o oxigénio seria o novo circuito do receio mãos ao alto pés para dentro
- encoste-se à parede - é a nova fotografia
de quem procura esquecer o dicionário
o solfejo que nada semeia,
a simples reminiscência do nada que inventa,
inventa,
ofusca e anseia.
***
(Alexandre Moreira)
Ofício do costume

Do amor às palavras apenas resta costume.
Faz-se rito o mistério e um deus inútil
silencioso visita a paisagem devastada dos nossos sonhos.
Em espelhos a arder olhamos o nosso rosto
e a mão segura uma flor que é de gelo e cinza.
Se nesse entardecer um pássaro cego cantar,
que nos devolverá o seu canto se já a noite aguarda
para arrancar dos nossos olhos a luz última do mundo?
***
(Abelardo Linares)
Soneto

Nasci – logo a meus pais custou dinheiro
o baptismo, que Deus nos dá de graça.
Tive uso de razão – Perdi a graça –
dei-me ao rol chegou a páscoa – dei dinheiro.
Quis casar com uma moça – mais dinheiro.
Brinquei com ela – não brinquei de graça:
Que aos nove meses me custou a graça
Para o Mergulhador capa e dinheiro.
Morreu minha mulher – não achei graça
e menos graça no arbitral dinheiro
da oferta; que o prior não vai de graça.
Se o ser sacristão requer sempre dinheiro,
como cumprem com dar graças de graça
o que as graças nos vendem por dinheiro?
***
(Filinto Elísio)
tudo o que vês chega de longe
Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
***
(Álvaro de Campos)
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Obscura luminosidade
Água mole em pedra dura

A polpa do sabor

quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Krinio

O poeta em Lisboa

Mola de roupa

(Obs: Este poema é sem sombra de dúvida um dos que mais me agradou descobrir nas muitas pesquisas que faço para florir este jardim. Adorei a simplicidade das palavras.)
As raparigas lá de casa

Traço comum
Amor e Medo
