terça-feira, 30 de junho de 2009

Só tu, doce criança


Nas tuas mãos um papel
Pode ser de mil cores
Um soldado sem quartel
Ou um jardim com flores
*
Um avião que não pousa
Uma bala que não mata
Um cavalo sem arreata
Que não conhece senhor
*
Um irmão com quem tu brincas
À apanha, e ao pião
Um pão quente que tu trincas
Como só se trinca o pão
*
Pai que te faz companhia
Nos teus sonhos sempre belos
Uma mãe quente e macia
E que te afaga os cabelos
*
Tudo quanto a vista alcança
E possas imaginar
Que só tu doce criança
Consegues reinventar.
***
(Mário Margaride)
(Para ti, Vasquinho)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Busca Do Homem


O homem por natureza
busca sempre mais além
esquecendo muitas vezes
procurar perto também.
E quanta vez não sucede
perder tempo...
tempo... tempo...
procurando muito longe
aquilo que está tão perto!!!
***
(Milú Almeida)

A Saudade Lembrou De ti


A saudade é sempre lembrança
Carregada de doces recordações
Que falam na alma uma poesia
Ora de amor ora de amizade!

Ascendendo volúpias
Sobre as cinzas...
Fazendo crepitar
A lareira do tempo
Que leva e traz o passado
Num presente ávido
De sentimentos adormecidos
No colo do coração...

A saudade traz uma carícia
Levada sem despedida...
O coração revira uma caixinha de guardados
Revê fotografias tiradas em memórias inesquecíveis...

O papel rascunhado de versos
Feitos para traduzir o tamanho sentimento
Que guardo na alma
Gritando o quanto gosto de ti!

E a distância simplesmente separando nossos caminhos...

Mas a saudade é flecha certeira
Que aponta a direcção mais intima de nós dois...

A lágrima se emociona
E chora...
Um sabor de nostalgia...
Recorda nossas venturas nas páginas da alma...
Mútua entrega de carinhos
Numa amizade cheia de amor
Que sempre permite a saudade
Vinda nos trilhos do tempo
Deixada na estação solidão...
***
(Regilene Rodrigues Neves)

domingo, 28 de junho de 2009

Saudade


Infeliz de quem vive sem saudade,
Do agridoce pungir alheio às penas,
Sem lembranças de amor e de amizade,
Hoje vivendo o dia de hoje, apenas.
*
Triste de ti, ancião, que te condenas
A mole insipidez da ancianidade
E não revives na memória as cenas
De prazer e de dor da mocidade!
*
Ter saudade é viver passadas vidas,
Percorrendo paragens preferidas,
Ouvindo vozes que se têm de cor.
*
Sonha-se… E em sonho, como por encanto,
A dor que nos doeu já não dói tanto,
Gozo que foi é gozo inda maior.
***
(Bastos Tigre)

sábado, 27 de junho de 2009

Meu mundo e nada mais


Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos e eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
*
Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
*
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
*
Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um traço de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
de enxergar um novo dia
*
Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
*
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
***
(Guilherme Arantes)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
*
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
*
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
*
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
*
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
*
Traduzir-se uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte
-será arte?
***
(Ferreira Gullar)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Revelações de mim

Se um dia eu entrar em tua casa não te assustes

Foi a saudade que apertou demais meu coração...

Se sentires uma presença em teu quarto não te alardes

Sou eu que venho implorar teu amor

É o desejo que sinto por ti...

Se um dia tocarem teu corpo não te assustes

Sou eu, venho conferir o amor que me juras

Não que não acredite em tuas palavras

Mas meu corpo necessita sentir teu calor...

Se chegar sem muito falar, olhe bem em meus olhos

Escute o que eles têm para te falar

Não te surpreendas com o que ouvires deles

Será a verdade guardada em meu peito que eles te dirão...

Se eu nada disser, não fiques preocupada, relaxa

Apenas me abras teus braços e digas que me amas

Não quero ouvir mais nada...

Quero apenas sentir teu ritmo em contacto com meu corpo!

Se invadir tua intimidade não te preocupes com teus segredos

Estarão todos guardados dentro de mim

E de lá jamais sairão...

Mas não me negues teu carinho e teu amor

Chegarei como um mendigo faminto!

Saberás o que desejo com apenas um olhar

Mata minha fome e a sede que tenho de ti!

Não ficarei muito tempo, não quero roubar-te o sossego

Ficarei o suficiente para marcar teu coração

Para matar minha vontade de ti

E para matar tua sede de mim...

Assim como entrei, sairei de tua vida

Mas nunca mais seremos os mesmos...

Sentiremos na alma que a felicidade é real

Apenas ainda não podemos alcançá-lá.

Levarei o gosto de tua boca

O sal de teu suor em contato com minha língua

Levarei além de tua doce lembrança

A certeza de que não somos apenas um caso

Somos duas almas a caminho da perfeição

(Eduardo Baqueiro)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Definição


A música do oceano promete emoção,
as ondas agigantam o momento
o sonho...
A teimosia repetitiva das marés
lembra que outros dias virão, o sol
virá de novo
mas o vento
frio
recorda o vazio
a falta da mão, do abraço, do peito
do beijo terno
o frio rudemente define
a tua falta
(Olga Fonseca)