quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Magnólia


A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu esplendor
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora
-necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.
***
(Luísa Neto Jorge)

O Sonho


Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.
***
(Sebastião da Gama)

...

Toda a palavra tem um sentir próprio.
Entardecer.
Sentimento morno num tempo ausente que o meu peito toma,
redenção, expiação com termo certo, troça?
Mas meu peito flui, vai e vem, respiro, interrogo-me.
Jazem certezas na calçada, perdidas, como os passos.
A que caminho tardio me levam estes passos
- às vezes lar de sonho tornado de viagem -
senão à inquietação destas noites,
passo por passo repisada em meu peito?
Quem é esta Lua, estupenda fêmea intrometida
entre mim e o Rei que faz o dia,
senão a circunstância da noite?
Circunstancial eu,
julgo rasgar a sangue e fogo os muros do tempo,
desvelado leito minhas mãos súplicas do sonho fresco
que, de quando em vez, alenta minha lassidão....mas não!!!
No canto de um pássaro chega a claridade da manhã.
- cegam-me ainda as luas da tua pele nua -
É ela, apenas ela, que alivia esta agonia cega
em peito nocturno, sem circunstância.
Será fé este halo que sobe do rio até mim?
Toda a palavra tem um sentir. Me. Te. Nos.
Transcendental.
Este meu julgar-me nesta luz
de contas acertadas com a entrega.

***

(Paula Paiva)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

...


Desfolhar uma rosa
é poesia
ou prosa?
***
(Cruzeiro Seixas)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Acolho-me


Acolho-me ao lençol do teu cabelo
no amor pedido do teu rosto ilúcido
e entrego-me à irisada luz
que zelaos lábios na sombria flor cedida.
A sépala descobre o centro dela
uma a uma dá o corpo à descoberta
na liturgia dos sentidos dados
à reza na capela como oferta.
Cavalgo na palavra que me dás
alado nos pequenos montes eros
percorro os sons cativos dos teus ais
aromas luzes são momentos raros.p
Passeando pela flor acesa o fogo
centelha a cada pétala que apago.
***
(José Félix)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Noite


É de noite que as palavras se soltam,
sem destinos nem contornos,
vagueando plurais em seus sentidos,
omitindo-se e revelando-se.

É de noite que me solto no sentir,
quando no adormecido silêncio
as palavras se fantasiam e libertam.

É de noite que acordo o poema
na sonolência do verbo,
na indigência dos significados,
na suavidade dos desvarios
consumados.

É de noite, na noite de mim,
que diariamente me exponho
nos silêncios libertados.
***
(Helena Monteiro)

O vínculo do meu amor à felicidade


Transformei-te num corpo
Vi-te num sonho.
Deste-me na lua
os raios brilhantes
de uma fantasia.
Que quando esquecer
volta a ser poesia!
Ergui-te com força
na sombra da mente
Voltei a erguer-te
com paixão ardente!
Só sonhei contigo
mas encontrei
toda a gente!
***
(Luís Lourenço)

Almas dos Poetas


Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
*
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
*
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
*
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
***
(Florbela Espanca)

domingo, 26 de abril de 2009

Exílio


Oh tempo tempo tempo,
tempo de colher
o que temos maduro:
o lume dos olhos
a luzir no escuro.
***
(Eugénio de Andrade)

Doçura do Silêncio


O céu escureceu e a chuva veio rápida
Fez pessoas correrem pisando poças d’água
Com passos desencontrados

Hipnotizou sob as marquises toda gente
E os olhares se tornaram distantes
Perdidos em quietudes e coisas do coração

Do lado de dentro de uma das janelas
Uma moça olhava o embaçado do vidro
Com a ponta do dedo e riscos de inundação

Inventou a imagem de um namorado
Desejou que ele permanecesse
Ficou imóvel como esperasse um beijo
Para não acordar a doçura do silêncio
***
(Antonio Miranda Fernandes)

És...


És
Viagem perfumada
por entre beijos e carinhos!
Abraços longos e demorados!
Sorrisos rasgados!
Memória constante!
Um raio de luz, numa noite de trevas!
O teu amor dá-me paz!
Tranquilidade!
Calma!
O teu amor é o fogo
que incendeia a minha alma!
Bailamos ao ritmo do amor!!!!
Perco-me no teu olhar...
Nas esquinas do teu coração...
O que eu quero é apenas amar-te lentamente,
Como se todo o tempo fosse nosso,
Como se todo o tempo fosse pouco,
Como se este amor fosse uma vida ou um instante!
Sonhamos porque a vida agora não mudará os nossos sentidos!
- Amei-te assim que te vi,
e o meu carinho ficou claro...
para sempre ao teu lado.
***
(Andreas - "WrongNick_")

sábado, 25 de abril de 2009

A esperança semeada


(Aos homens do 25 de Abril)
*

O sangue aqui renasce.

Na terra revolvida
rebentam ervas novas
(as horas más passaram).

O Sol - um outro sol - aqui se inventa
por sobre a lenta
erosão da estrada.

Aqui ou nunca.
Ou nada!

A voz aqui rebenta
e é não mais calada.


Por novas leis se fundam
de fibra as pulsações:

o corpo-a-corpo antigo a antiga pele
não mais hão-de pisar
a esperança semeada.

Ardentes leivas vivas avivaram
nossa canção maior.

Um girassol prossegue.

Renasce o sangue aqui
em flores de dádiva.
***
(João Rui de Sousa)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Negar


Porque insisto em negar o que todo o meu corpo
Repete vezes sem conta cada vez que respiro
Porque tento não ouvir o que me cantam os olhos
Sempre que te vejo numa inventada esquina
Onde me cruzo contigo e me prendes os sentidos
Porque insisto em chorar se tanto de ti me preenche
O dia, a noite, o adormecer e o acordar...
Porque duvido eternamente
De todos os sorrisos que me ensinas
De todos os beijos que me roubas.
É como viver sem querer viver
Sempre rejeitando a vida para não morrer
*
Como se não fosse claro
Que preciso de sofrer para melhor te amar
Que preciso de chorar para melhor te cuidar
Porque insisto em negar que te amo
Se tudo à minha volta é uma infinita canção de amor
Que me leva até ao fim de todos os caminhos
Ao princípio de todos os mares
Num momento de amor que imagino partilhando contigo
*
Porque insisto em negar
Que te amo
Se tudo em meu redor
Já o descobriu...
***