Ficávamos no quarto até anoitecer,
ao conseguirmos situar num mesmo poema o coração e a pele
quase podíamos erguer entre eles uma parede
e abrir depois caminho à água.
Quem pelo seu sorriso então se aventurasse
achar-se-ia de súbito em profundas minas,
a memória das suas mais longínquas galerias
extrai aquilo de que é feito o coração.
Ficávamos no quarto, onde por vezes
o mar vinha irromper. É sem dúvida em dias de maior paixão
que pelo coração se chega à pele.
Não há então entre eles nenhum desnível.
***
(Luís Miguel Nava)