quarta-feira, 18 de abril de 2012

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"Serenidade não é indiferença."
***


(Uma frase que me transmitiu a força de um poema.
E é por essa razão que a "planto" neste meu jardim.)



A poesia não morreu



A minha impaciência não cabe no poema
ou na pedra afiada pelo silêncio
que me fere os pulsos.
Gravei a sangue o furor dos dias
e deixei rasgar em minha boca
os frutos da sede e do assombro.
Não me venham dizer
que precisamos de profetas
ou de heróis ou de sábios
para o mundo ser salvo.
Nós acreditamos que o brilho das manhãs
se arredonda nas arcadas do tempo
assediando o sonho fraterno dos poetas.
A poesia não morreu.
De memória em memória
ela atravessa as palavras
com a farpa da revolta.
É preciso gritar que a poesia não morreu?
***
(Graça Pires)

No turbilhão



A Jaime Batalha Reis
***

No meu sonho desfilam as visões,
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
arrebatado em vastos turbillhões...

Num espiral, de estranhas contorções,
E donde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições...

-Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,
Que me fitais com formidável calma,
Levados na onda turva do escarcéu,

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?
Quem sois, visões misérrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...
***
(Antero de Quental)

Aspiração



Meus dias vão correndo vagarosos,
Sem prazer e sem dor parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.

Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém, do pressentir dá-ma a certeza,
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!
***
(Antero de Quental)