quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quando sentires...

Amor...
Quando sentires minha falta
Quando quiseres me ver
Quando não couberes em si de tanta saudade
Quando puderes sentir meu beijo, meu desejo
Não tema, procure-me
Estarei no brilho de um olhar
Sempre a espera de você chegar
Serei teu aconchego,
Teu delírio,
Teu martírio,
Teu calor
Serei a vontade de tudo
Serei a felicidade
O extremo
A igualdade
Serei a vida, não mais esquecida
Serei você
Amor...
***
(Fernanda Ferraz)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pensando em você

Nas madrugadas, madruguei
Nas noites caminhei...
Nos sonhos te encontrei
Em êxtase te beijei...
A saudade abracei
O desejo sufoquei
Sem jeito fiquei...
Pois sem teu amor
Te amei

***

(Clicia Pavan)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Caminho Encontrado


Razão e loucura
Abismo de mãos
E gestos em fúria
Palavras
Silêncios
E corpos suspensos
Nas bocas a febre
Nos olhos delírio
Regresso de noite
Caminho encontrado.
***
(Manuela Amaral)

domingo, 17 de maio de 2009

Estou a amar-te


Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.
A arrancar-te a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
***
(Eugénio de Andrade)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Freedom


Quem ama não prende, liberta.
Por isso eu te liberto.
Deixo-te ir. Segue o teu rumo, meu amor.
Desejo-te toda a felicidade do Mundo.
Se isso significa ver-te partir para o outro lado do planeta,
a quilometros de distância, que seja.
Se para encontrares a felicidade
tenhas de estar nos braços de outra mulher, seja.
Quero do fundo do coração que sejas muito feliz.
Por isso te liberto.
Para o Mundo.
Para ela.
Para o que seja.
Vai.
Segue o teu rumo.
Que o caminho se faça de dias de sol.
Também eu seguirei o meu rumo.
Contigo no coração.
Mas sem ti.
Gostando muito do que fomos juntos,
mas não te amando como então.
A vida seguirá.
Os dias passarão.
As luas cheias por cima de nós...
Quem sabe se um dia
a tua estrada se cruzará com a minha?
***
(Alfacinha)

Sussurro


Desfolho-me...
e
pétala a pétala
deito o descobrir da minha pele nas tuas mãos
e escorrego o sabor do meu suor nos teus lábios
ainda secos
*
Começo a acordar-me
no sorriso que descubro na ponta dos teus dedos
e
escuto o sussurro dos teus poros já abertos
sorrio-te
e
entrego-me
Suspiro...
***

(Cris)

terça-feira, 12 de maio de 2009

Nua

I
Nua como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo é água de torrente...
Eva adolescente,
com reflexos de lua e tons de aurora...!
Roseira que enflora...!
Desflorada por tanta gente...
**
II
Teu corpo,
mal o toquei...
Só te abracei
de leve...
Foi todo neve
o sonho que alonguei...
Asas em voo, quem, um dia, as teve?
Os sonhos que eu sonhei!
**
III
Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança do ramo de árvore
que o vento beija e balança!
Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!
Quem destrançou os teus cabelos de oiro?
**
IV
Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos...
Tão macio,
tão modelado...
Beijos... Beijos... Beijos...
**
V
No meu sono
ela flutua a cada passo...
Nua,
riscando o espaço
numa névoa de outono...
Apenas nos cabelos
um azulado laço...
E assim enlaço
a imagem sua...
***
(Saúl Dias)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Procuro-te


Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
*
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul do prado
e de um corpo estendido.
*
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti,
e o teu nome ilumina as coisas mais simples:
o pão e a água, a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue o meu canto
e a manhã de maio.
*
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
*
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
*
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime,
procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio,
ao sol, à chuva, de noite, de dia,
triste, alegre
— procuro-te.
***
(Eugénio de Andrade)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sem Rumo

Não sei onde me levam os caminhos
Da peregrinação a que me dei:
Se a planaltos azuis de rosmaninhos,
Se a cavernas de bárbaros, não sei.
*
Ouvi cantar no céu a voz dos ninhos,
E, à voz dos ninhos vivos, acordei.
Peguei no meu bordão, todo de espinhos,
Fiz-me à jornada e nunca mais parei.
*
Sangram-me os pés de só pisar abrolhos.
São dez chagas vermelhas os meus dedos
E dois galhos trementes os meus braços.
*
Entrou a noite dentro dos meus olhos.
Anjo da Guarda, ensina-me os segredos
De andar na vida sem perder os passos.
***
(Moreira das Neves)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ódio?


Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...
*
Que importa se mentiu?
E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!
*
Ah! nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d’outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
*
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena...
***
(Florbela Espanca)

domingo, 3 de maio de 2009

História de Amor


Na hora certa do plantio, num chuvoso Abril,
semente sedenta de vida,
caíste no solo do meu coração que te esperava.
Germinaste, cresceste, criaste raízes.
*
Teus braços verdes se levantaram para o céu.
Chegaram as douradas flores,
seguidas de frutos generosos,
frutos que saciaram todas as minhas fomes.
*
Na tua sombra me abriguei,
no teu perfume me embriaguei.
No verde de tuas folhas, encontrei esperança.
Nas tuas flores, novos mundos de beleza.
*
As tuas raízes penetraram profundas
no solo ansioso e fértil do meu coração,
num eterno abraço de amor,
e me ligaram a ti, inseparavelmente, para sempre.
***

(Joseph E. de Sousa)

Amor Vagabundo


Amor vagabundo
Amor sem dona amor sem rumo
Á noite em teu leito de amor
Sussurras ao meu ouvido
Palavras quentes e doces
Proteges-me com o calor do teu corpo
E fico acordada a ouvir
O bater do teu coração
A sentir o teu suor escorrendo
Pelo meu corpo cansado
E pela manhã a surpresa
Abafas-me o peito
Como se eu fosse uma criança
Beijas-me com tal ternura
Que sinto algo disparar dentro de mim
E colo os meus lábios aos teus
Enrolo-me mais uma vez no teu corpo
Para sentir o teu calor
E tu partes deixando-me trémula,
imaginando as tuas mãos em minha pele
O teu suor a pingar em mim
Numa dança sem passo certo
Até á exaustão total...
***
(TattooBlue)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Grito

Dos dias, sim, mas das noites
quem pergunta pelo nome
essas flores selvagens
(seriam flores?)
trazidas pelo teu assobio

A beleza nunca é clara
no modo em que se aproxima
Somos com certas coisas
um mundo ainda terrível
incapaz de explicações
sem nenhuma das certezas
mesmo aquelas, ínfimas, que sustentam
uma palavra, um olhar ou um grito

Só nos resta a maneira
mais pura:
de igual para igual
tão desconhecidos
***
(José Tolentino de Mendonça)