quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Charneca em flor


Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
*
Anseio! Asas abertas! O que trago em mim?
Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
*
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
*
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor.
***
(Florbela Espanca)

2 comentários:

josé luís disse...

um feliz doismileonze cristiana!

agora ando por aqui
http://poediapoedia.blogspot.com/
e também por aqui
http://somesongsofmylife.blogspot.com/

Cristiana disse...

Obrigada, José Luís.
Votos atrasados (e por isso peço desculpa) de um 2011 repleto de tudo o que mais desejar.
Irei visitá-lo nos seus novos cantinhos.