segunda-feira, 13 de maio de 2019

Mendigo


Para que me serve ter memória,
Quando vivo esta triste história.
Nada é como contavam os antigos,
Pois o amor faz-nos sentir mendigos,
Esquecidos numa qualquer esquina de rua
Que bem podia ser a tua.
Protegendo-me do frio e da dor,
Vivo debaixo deste velho cobertor,
Implorando a Deus outra oportunidade,
Outra vida, um resquício de sinceridade.
Mas continuo perdido na recordação,
Suspenso e indigno de consideração,
Pelos que por cima de mim estão a passar
Com o único objectivo de me pisar.
Sou somente o momento de um solstício,
Um zé-ninguém, um mero desperdício,
Uma mentira cheia de verdade,
Branca escuridão na mais negra claridade.
Não sei como irá ser a continuação
Desta solene e infeliz oração,
Que é viver uma vida sem alguma paixão,
Num mundo sem a mínima compaixão.

***
(Dias Miguel)

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