sábado, 8 de novembro de 2008

Pudesse eu florir


Pudesse eu florir em cada flor
no pretexto do sonho em que te envolvo
do meu corpo, no teu corpo, em desalinho.
E tu beberes o conforto
que em cada momento te ofereço
no líquido híbrido
dos meus olhos de águia presa,
no anseio e no fascínio.
Este cálice de sangue e vida,
esta taça pálida d'amargurada orquídea.
Ser-te seiva, suor e linfa...
Pudesse eu, amado, florir e madrugar
nas pupilas do teu olhar tristonho.
Ser o teu mar, o teu mais alto sonho,
ser finda melancolia.
Ser novo dia a beber da claridade
na febre da tua lira.
Ser ninfa, de cobiçosos horizontes,
d’eternidades e tu poesia a explodir-se
na fonte de meu corpo, amado.
Concubinos, viajante de um mesmo sonho,
de mãos unidas,
elevados ao êxtase do canto egrégio
na voz do silêncio de solidão extinta.
Sermos dos amantes a voz que explode,
a voz que grita,
na flama de quem se ama
sem razão ou medida,
na praça e na avenida,
na alma nua, no chão da rua,
na purificaçãodo sal e mel.
No sorriso, na adoração,
na pacificação da dor…
Pudesse eu florir em cada flor de ti, amor!
Pudesse eu!
(Mel de Carvalho)

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