quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dá a surpresa de ser


Dá a surpresa de ser. 
É alta, de um louco escuro. 
Faz bem só pensar em ver 
Seu corpo meio maduro. 
*
 Seus seios altos parecem 
(Se ela estivesse deitada) 
Dois montinhos que amanhecem 
Sem ter que haver madrugada. 
*
 E a mão do seu braço branco 
Assenta em palmo espalhado 
Sobre a saliência do flanco 
Do seu relevo tapado. 
*
Apetece como um barco. 
Tem qualquer coisa de gomo. 
Meu Deus, quando é que eu embarco? 
Ó fome, quando é que eu como?
***
(Fernando Pessoa)

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