Apenas
uma coisa inteiramente transparente:
o céu,
e por baixo dele a linha obscura do horizonte
nos teus olhos,
que pude ver ainda
através de pálpebras semicerradas,
pestanas húmidas
da geada matinal,
uma névoa de palavras murmuradas
num silêncio de hesitações.
Há quanto tempo,
tudo isto?
Abro o armário onde o tempo antigo
se enche de bolor e fungos;
limpo os papéis,
cartas que talvez nunca tenha lido até ao fim,
foto-
grafias cuja cor desaparece,
substituindo os corpos
por manchas vagas
como aparições;
e sinto, eu
próprio,
que uma parte da minha vida
se apaga
com esses restos.
***
(Nuno Júdice)
Sem comentários:
Enviar um comentário