terça-feira, 6 de novembro de 2012

Por isso não gosto de amoras


A lua havia de cair um dia
no chão mais próximo. 
Num lugar que havia de desvelar a palavra. 
Havia de tombar 
era irremediável. 
Sei-o agora. 
*
Mas resvalou 
desgovernada 
roubada por outras solicitações.
As esplanadas 
os bancos de jardim 
os livros 
passaram então a ser-me ardis. 
De traição em punho. 
Por isso 
já nada se parece 
com a glória antiga 
largada agora noutra morada. 
*
Depois o intragável escuro. 
Um escuro que não me deixa saber 
o elementar e o secundário. 
Entardeceram ambos. 
*
Já nada sei 
depois que o mar lambeu a areia 
e desfez a palavra. 
Se é que alguma vez soube. 
Se é que alguma vez a palavra existiu. 
E se existiu foi num instante. 
Num muro de silvas 
entre amoras falsas.
***
(Rita Carrapato)

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