sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Versos antigos



se a noite se perder em ritmos de água, eu morrerei.
não há palavra mais doce que aquela que se despe
lentamente na baía, na nostalgia de si mesma.
outrora era a evidência do verso, rumor de aves,

lagos espirais caminhos por entre fontes e azuis
danças de deus nos longínquos areais, mas as
incertezas acumularam-se depois do sono, lembranças
da infância, da fronteira, dos açudes ruidosos.

eu morrerei se ouvir de novo essa voz, por isso
afastai-a célere dos oceanos, das portas entreabertas,
dos segredos. essa palavra é doce e mortífera: amai-a

longe de mim onde o silvo, o alarme das estações, é uma
espada, um gume à deriva no corpo. ficarei entre
sinais, escombros, longe das margens dos lagos, leve.
***
(Francisco José Viegas)


Sem comentários: