segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Tempo



O tempo é uma substância volátil, arredia e mole
Calma e inesperada, que se esvazia e enche como um balão ou fole
Uma substância vaga, desequilibrada e implexa, de alma inconstante
Que se dissipa e brota a qualquer instante

Assim, de mim se afasta se o procuro
Toca-me e arrebata-me, se dele me canso e me despeço
A mim se apega e em mim se enlaça quando lhe fujo
Enrola-me e envolve-me de amor quando não peço

O tempo é tudo o que urge quando sobeja
Tudo o que de mim se aparta, se acaso a vontade almeja

Quando me esfalfo e o quero, de mim se afasta
Quando dele prescindo, em mim se enrola, julga, condena e caça

O tempo é um amante frívolo e indeciso, que prende e embaraça
Uma alma doce, que descubro amarga se me desalenta
Um compasso brusco, se me apraz com pressa e me encontro lenta
È sol quando eu sou nuvem, transparente se sou lodo ou água turva

O tempo é uma maleita, uma cisma sem amparo ou cura
Uma paixão platónica, sofrida e insegura que perdura
Um amor desgarrado, uma intensa vontade de procura

Com ele me estendo, sonho e medito
Baralho-me e contento-me num eterno delito
***
(Manuela Carneiro)

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