sexta-feira, 21 de maio de 2010

servidão


não suporto os olhos.
longe de ti.
doem-me as têmporas
as aves do rio atravessam
cansadas
a luz que os peixes saquearam.
quero-te única
na vaga medonha
das lembranças
se me dissesses
que és um pouco mais feliz
por seres corpo e pele
do poema.
só os teus olhos escrevem
no meio desta servidão
a palavra dor.
olhos tão ausentes
como uma carta
extraviada
que nunca chega.
sabes o que é a noite?
é um lugar imaginado
donde foges
sempre que me aproximo
dos teus lábios.
sabes o que é a morte?
é não existires
para além
de um instante
de ficção.
***
(Alberto Serra)