segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cântico



Num impudor de estátua ou de vencida,
Coxas abertas, sem defesa…, nua
Ante a minha vigília, a noite, e a lua,
Ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
Meu olhar doce desce aonde o sexo estua.
Choro… e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
Sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos…,
Enquanto o luar a nimba, inerte, gasta
Da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos…
E eu pouso a boca, religiosa e casta,
Sobre a flor esmagada do seu sexo.
***
(José Régio)

Sem comentários: