
Uma noviça, jovem de talento
Na arte do desenho e da pintura, 
Pede à madre abadessa do convento 
O favor de lhe ver uma figura. 
Era a imitação escrupulosa 
De um menino em tamanho natural 
Que pertencia a soror Anna Rosa, 
Tido em conta de um belo original! 
A soro costumava, por decência 
Tê-lo com uma tanga pequenina, 
Que lhe encobria aquela saliência 
Que distingue o menino da menina. 
Mas uma tanga tão apropriada 
No tecido e na cor, que na verdade 
A gente olhava e não lhe via nada 
Que desmentisse a naturalidade.
Era, pois, de esperar que a nossa artista, 
Assim como no mais, naquela parte 
Pintasse apenas o que tinha à vista 
Que é o preceito e o primor da arte.
 Vê a madre abadessa a maravilha, 
E não se cansa de a louvar! 
Mas lança A vista atenta àquele ponto: "Ai, filha,
Que falta essencial!... Pobre criança! 
Que pena! O colorido, que beleza! 
Pernas, braços e tudo, que perfeito! 
Mas confesso... Confesso com tristeza... 
Que enorme, que enormíssimo defeito!"
***
(João de Deus)
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