segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Passos


revejo-te na luz silente da tua pele, e na noite ambígua
das tuas mãos. revejo os teus pés de romã e a língua rubra
de todas as manhãs. é na luz submersa do despertar
que sinto os teus passos, que não oiço, que não vejo.
são nebulosas, os teus passos. são passos ausentes,
os teus passos. são pássaros de fogo e eternidade
na luz débil das estrelas. são a água que escorre dos
meus braços e a língua de fogo do meu ventre escondido.
revejo-te silencioso, nas estórias que me conto e na memória
de uma noite sob a água e a chuva e a dança das mãos.
da tua pele, fiz uma manta de retalhos de sombras,
e com ela teci a obnibulada manhã do despertar dos ossos.
é com ela que me visto. é com ela que te visito.
é assim que te sei. manhã submersa de cada recanto
dos meus olhos. tecido estranho das vestes das noites.
visão ansiada das pálpebras da realidade. pés que caminham
sobre o chão que piso. geometria de tudo o que sei. pele.
***
(Susana Duarte)

2 comentários:

Terra de Encanto disse...

Obrigada, de todo o coração, pela citação.
Um beijo amigo, cheio de poesia.

Cristiana disse...

Obrigada eu por enriquecer este meu cantinho com a beleza das suas palavras.
E obrigada também pela visita e por ter deixado uma marca dessa passagem por aqui.

E continue a escrever tão bem como escreve.
Um beijinho.