segunda-feira, 22 de março de 2010

Chegam cedo demais, quando ainda não podem escolher


Chegam cedo demais,
quando ainda não podem escolher nem decidir.
Vêm carregados de espectros, de memórias
e de feridas que não souberam sarar;
mas trazem a confiança da cura nas palavras.
Convencem-se de que amam outra vez
quando nos tocam os pequenos lugares,
esquecendo-se do rumo incerto dos seus passos
nas estradas tortuosas que os trouxeram.
Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber
e falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade.

Dormem de vez em quando nas nossas camas
e protegemo-los da dor como aos filhos que não iremos ter nunca
porque não nos resignamos a perdê-los.
E, um dia, partem, vão culpados,
não chegam a explicar o que os arrasta.
Escrevem cartas mais tarde
― uma ou duas para se aliviarem dessa espada.
E nós fiamos, eternamente, sem vergonha,
à espera que regressem.
***
(Maria do Rosário Pedreira)

2 comentários:

josé luís disse...

poema lindo...

Cristiana disse...

Lindo, sem dúvida.