quinta-feira, 25 de março de 2010

Labirinto ou não foi nada


Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.
*
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua…
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!
*
Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.
*
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua…
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.
*
Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.
***
(David Mourão-Ferreira)

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