Todas as vidas gastei
para morrer contigo.
*
E agora
E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.
*
Rasguei as cartas.
Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.
*
Queimei as fotos.
Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.
*
Com que roupa
Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há Domingos?
*
*
Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.
*
Todas as mortes gastei
Todas as mortes gastei
para viver contigo.
***
(Mia Couto)
2 comentários:
só agora reparei que se podiam (novamente) deixar comentários...
gosto muito deste poema.
Bom dia, José Luís
Sabe que tudo na vida tem os seus momentos de pausa... e até um mero blogue precisa disso, quanto mais não seja para se perceber quem o visita por bem, como é o seu caso.
Obrigada e espero que continue a gostar de encontrar por aqui poemas conhecidos e desconhecidos.
Enviar um comentário