sexta-feira, 23 de julho de 2010

Já não há Domingos...


Todas as vidas gastei
para morrer contigo.
*
E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.
*
Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.
*
Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.
*
Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há Domingos?
*
Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.
*
Todas as mortes gastei
para viver contigo.
***
(Mia Couto)

2 comentários:

josé luís disse...

só agora reparei que se podiam (novamente) deixar comentários...
gosto muito deste poema.

Cristiana disse...

Bom dia, José Luís

Sabe que tudo na vida tem os seus momentos de pausa... e até um mero blogue precisa disso, quanto mais não seja para se perceber quem o visita por bem, como é o seu caso.
Obrigada e espero que continue a gostar de encontrar por aqui poemas conhecidos e desconhecidos.