segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A criança



Que tens criança?

O areal da estrada

Luzente a cintilar

Parece a folha ardente de uma espada.

Tine o sol nas savanas.

Morno é o vento.

À sombra do palmar

O lavrador se inclina sonolento.

*

É triste ver uma alvorada em sombras,

Uma ave sem cantar,

O veado estendido nas alfombras.

Mocidade, és a aurora da existência,

Quero ver-te brilhar.

Canta, criança, és a ave da inocência.

*

Tu choras porque um ramo de baunilha

Não pudeste colher,

Ou pela flor gentil da granadilha?

Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,

Para em teus lábios ver

O riso — a estrela no horizonte da alma.

*

Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite

Dos seus algozes vis.

E vagas tonto a tatear a noite.

Choras antes de rir... pobre criança!...

Que queres, infeliz?...

— Amigo, eu quero o ferro da vingança.

***

(Castro Alves)

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