segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Qual é a tarde por achar


Qual é a tarde por achar
Em que teremos todos razão

E respiraremos o bom ar

Da alameda sendo verão,

*

Ou, sendo inverno, baste 'star

Ao pé do sossego ou do fogão?

Qual é a tarde por voltar?

Essa tarde houve, e agora não.

*

Qual é a mão cariciosa

Que há de ser enfermeira minha

— Sem doenças minha vida ousa —

Oh, essa mão é morta e osso...

Só a lembrança me acarinha

O coração com que não posso.

***

(Fernando Pessoa)

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