segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tarde no mar



A tarde é de oiro rútilo: esbraseia.

O horizonte: um cacto purpurino.

E a vaga esbelta que palpita e ondeia,

Com uma frágil graça de menino,

*

Pousa o manto de arminho na areia

E lá vai, e lá segue o seu destino!

E o sol, nas casas brancas que incendeia,

Desenha mãos sangrentas de assassino!

*

Que linda tarde aberta sobre o mar!

Vai deitando do céu molhos de rosas

Que Apolo se entretém a desfolhar...

*

E, sobre mim, em gestos palpitantes,

As tuas mãos morenas, milagrosas,

São as asas do sol, agonizantes...

***

(Florbela Espanca)

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