Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
***
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
2 comentários:
lamento pela princesa desconhecida
(com rima a-b-c-d sofrida)
imagino-te num castelo dourado
rodeado de fossos profundos
e muralhas intransponíveis...
imagino-te solitária à janela
à espera do príncipe encantado
contando dias, horas, segundos
imaginando raptos impossíveis
e amores românticos de donzela
Gostei, apesar de também lamentar pela princesa desconhecida :-)
Obrigada.
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