terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Amor da palavra, amor do corpo


A nudez da palavra que te despe.
Que treme, esquiva.
Com os olhos dela te quero ver,
que te não vejo.
Boca na boca, através de que boca
posso eu abrir-te e ver-te?
É meu receio que escreve e não o gosto
do sol de ver-te?
Todo o espaço dou ao espelho vivo
e do vazio te escuto.
Silêncio de vertigem, pausa, côncavo
de onde nasces, morres, brilhas, branca?
És palavra ou és corpo unido em nada?
É de mim que nasces ou do mundo solta?
Amorosa confusão, te perco e te acho,
à beira de nasceres tua boca toco
e o beijo é já perder-te.
***
(António Ramos Rosa)

2 comentários:

josé luís disse...

«à beira de nasceres tua boca toco
e o beijo é já perder-te» é... inigualável.
um dos meus heróis...

Cristiana disse...

Nunca duvidei do seu bom gosto e preferências :-)