
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.
Original é o poeta 
de origem clara e comum 
que sendo de toda a parte 
não é de lugar algum. 
O que gera a própria arte 
na força de ser só um 
por todos a quem a sorte 
faz devorar um jejum. 
Original é o poeta 
que de todos for só um.
Original é o poeta 
expulso do paraíso 
por saber compreender 
o que é o choro e o riso; 
aquele que desce á rua 
bebe copos quebra nozes 
e ferra em quem tem juízo 
versos brancos e ferozes. 
Original é o poeta 
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta 
que chega ao despudor 
de escrever todos os dias 
como se fizesse amor. 
Esse que despe a poesia 
como se fosse uma mulher 
e nela emprenha a alegria 
de ser um homem qualquer.
***
(Ary dos Santos)
(Singela homenagem a este grande poeta nascido neste dia, em 1937) 
2 comentários:
cristiana, grande, enorme lembrança!
e há quanto tempo não relia este poema - farei dele uma fábula (apesar de completa) - e com a devida menção ao «jardim» onde foi colhida.
Faça, cá estarei para a ler
:-)
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