segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

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Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
***
(Ary dos Santos)
(Singela homenagem a este grande poeta nascido neste dia, em 1937)

2 comentários:

josé luís disse...

cristiana, grande, enorme lembrança!

e há quanto tempo não relia este poema - farei dele uma fábula (apesar de completa) - e com a devida menção ao «jardim» onde foi colhida.

Cristiana disse...

Faça, cá estarei para a ler
:-)