quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A sofreguidão de um instante


Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.
***
(José Jorge Letria)

2 comentários:

josé luís disse...

belo poema.
agora agradeço eu:
obrigado pela partilha
;-)

Cristiana disse...

Belo, sem dúvida.
Não agradeça, use e abuse do prazer de ler, não só este como todos os que porventura gostar.
:-)