Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.
*
Lançaste no papel
Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
*
Ó cálida mulher,
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
*
Contudo, um teu olhar
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:
*
Do teu rostinho oval
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
*
Teus olhos sensuais,
Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
*
As grandes comoções
As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas…
*
Teus olhos imorais,
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!
***
(Cesário Verde)
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