quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Primeira água


Apaguei os olhos e me deitei no luar
aprisionando algumas estrelas em mim.
O canto dos ventos nas rochas era lento
assim como uma cantiga de ninar criança
estendida além das horas, além do tempo.
Na boca ainda guardava o sabor carmim
do vinho que sorvi com a alegria que buscava.
Pude ouvir a chegada do silêncio devagar
no navegar asas abertas dos meus sonhos.
Pude sentir o frescor da fonte e enchi
meu copo vazio. Primeira água da manhã.
Bebi gole longo e com ele veio o sol
emergindo do horizonte como a bola de
sabão se solta do canudo,vagarosamente,
se libertando na brisa acordando o dia.
Abri meus braços com preguiça, como fazem
as gaivotas com os papos cheios de peixes.
Abri as cortinas do meu olhar e percebi
que o mundo havia virado poema novamente
Então cantarolei como nunca antes e sorri.
***
(António Miranda Fernandes)

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