Um dia em que a mulher nasça do caule da roseira
que cresce no quintal; ou um dia em que a nuvem
desça do céu para vestir de névoa os seus seios de flor:
seguirei o caminho da água nos canteiros
que me levam ao caule,
e meter-me-eipela terra em busca da raíz.
Nesse dia em que os cabelos da mulher
Nesse dia em que os cabelos da mulher
se confundirem com os fios luminosos
que o sol faz passar pela folhagem;
e em que um perfume de pólen se derramar
no ar liberto da névoa:
procurarei o fundo dos seus olhos,
onde corre uma tranparência de ribeiro.
Um dia irei tirar essa mulher de dentro da flor,
Um dia irei tirar essa mulher de dentro da flor,
despi-la das suas pétalas, e emprestar-lhe
o véu da madrugada.
Então, vendo-a nascer com o dia,
desenharei nuvens com a cor dos seus lábios,
e empurrá-las-ei para o mar com o vento brando
da sua respiração.
Depois, cobrirei essa mulher que nasceu da roseira
Depois, cobrirei essa mulher que nasceu da roseira
com o lençol celeste; e vê-la-ei adormecer,
como um botão de rosa, esperando que a nuvem desça do céu
para a roubar ao sonho da flor.
***
(Nuno Júdice)
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