terça-feira, 26 de agosto de 2008

O insecto


Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.
Sou mais pequeno que um insecto.

Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos que só eu conheço,
centímetros queimados, pálidas perspectivas.

Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa de fogo humedecido!

Pelas tuas pernas desço tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos duma dureza redonda
como os ásperos cumes dum claro continente.

Para teus pés resvalo
para as oito aberturas dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio do lençol branco caio,
procurando cego e faminto
teu contorno de vaso escaldante!
(Pablo Neruda)

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