quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um homem na cidade


Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade de trabalhar
nunca se cansa.
*
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.
*
Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.
*
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.
*
Sou a gaivota que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
*
E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
*
O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem
que me quer bem!
*
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis
que me quer bem!
(Ary dos Santos)

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