
como se fosse uma criança 
uma roseira entrelaçada 
uma videira de esperança 
tal qual o corpo da cidade 
que manhã cedo ensaia a dança 
de quem por força da vontade de trabalhar 
nunca se cansa. 
*
Vou pela rua desta lua 
que no meu Tejo acende o cio 
vou por Lisboa maré nua 
que se deságua no Rossio. 
*
Eu sou um homem na cidade 
que manhã cedo acorda e canta 
e por amar a liberdade 
com a cidade se levanta. 
*
Vou pela estrada deslumbrada 
da lua cheia de Lisboa 
até que a lua apaixonada 
cresça na vela da canoa. 
*
Sou a gaivota que derrota 
todo o mau tempo no mar alto 
eu sou o homem que transporta
 a maré povo em sobressalto. 
*
E quando agarro a madrugada 
colho a manhã como uma flor 
à beira mágoa desfolhada 
um malmequer azul na cor. 
*
O malmequer da liberdade 
que bem me quer como ninguém 
o malmequer desta cidade 
que me quer bem 
que me quer bem! 
*
Nas minhas mãos a madrugada 
abriu a flor de Abril também 
a flor sem medo perfumada 
com o aroma que o mar tem 
flor de Lisboa bem amada 
que mal me quis 
que me quer bem! 
(Ary dos Santos)
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