quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Poema do coração


Eu queria que o Amor
estivesse realmente no coração,
e também a Bondade, e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais,
tudo estivesse realmente no coração.
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos, falo-vos do coração",
ou então: "com o coração nas mãos".
Mas o meu coração é como o dos compêndios.
Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue ao circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.
Por vezes acontece ver-se um homem,
sem querer, com os lábios apertados,
e uma lâmina baça e agreste,
que endurece a luz dos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.
Então, meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

(António Gedeão)

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