quarta-feira, 13 de abril de 2011

Canção primaveril



Anda no ar a excitação

de seios súbito exibidos

à turva luz de um alçapão,

por onde os corpos rolarão,

mordidos!

*

Ou é um deus, ou foi a Morte

que nos vestiu este torpor;

e a Primavera é um chicote,

abrindo as veias e o decote

ao meu amor!

*

Esqueço que os dedos têm ossos:

é só de sangue esta carícia;

apenas nervos os pescoços...

Mas nos teus olhos, nos meus olhos,

a luz da morte brilha.

***

(David Mourão-Ferreira)

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