sexta-feira, 30 de maio de 2008

Casa


Tentei fugir da mancha mais escura
Que existe no teu corpo e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
Era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
E em quartos interiores o cheiro a fruta
Que veste de frescura a solidão…
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
O que me sai, sem voz, do coração.
(David Mourão-Ferreira)

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