terça-feira, 27 de maio de 2008

Oferenda


Eu dou estes meus versos à humildade
Dos que são meus irmãos no insatisfeito anseio;
Aos poetas que não ousam cantar,
E a esses pintores cujo mais belo quadro,
Entrevisto num sonho,
É sempre o que jamais podem pintar;
Aos que sentem na alma os ritmos estranhos
Da partitura que não sabem escrever;
E aos que, vivendo a Vida, em cada instante
Pensam que hão-de morrer;
Aos que consigo trazem a ternura
E o generoso anseio de se dar,
Mas que ninguém quis aceitar;
E aos homens e mulheres que morrerão
Obscuros como eu,
Porque nunca puderam encontrar
Sua íntima expressão;
Aos soldados que não foram heróis
Só porque nunca combateram;
E aos soldados vencidos nas batalhas,
Mais tristes porque nelas não morreram;
E aos que adoram crianças, sem ter filhos,
E a todos,
Todos os que, por diferentes trilhos,
Levam em segredo e quase a medo,
Dentro de si,
Um mundo destroçado de ilusões desfeitas,
Ou, como eu,
Um infinito de Capelas Imperfeitas.
(Marcelo Mathias)

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