quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Verão, Outono


"Antigamente havia em mim um nome gravado a fogo
eu morria por ele.
Eu fechava os olhos e o nome pedia-me a luz,
a manhã, a música.
Antigamente eu imaginava a delicadeza,
as florestas, os bosques reduzidos ao silêncio
pelos subterrâneos da tarde,
e ser tocado no rosto era ser ferido por uma imensa
beleza, pelos olhos da planície, como um animal adormecido,
como um lugar onde deitar a cabeça
e adormecer sonhando com o deserto.
No deserto eu estava a salvo, caminhando nos
declives e havia palavras imensas,
palavras como o trigo e o mar
e as raízes e os relâmpagos
e um rosto e os campos do Outono
e isso era como ficar cego no meio da luz
estremecendo entre
as poeiras, as cores da manhã, as veredas dos bosques.
E eu olho fixamente esse rosto de fogo,
toco uma vez essas mãos,
amo demoradamente a distância,
comovo-me perdido na sua voz,
enquanto passa no mundo uma estranha ventania."
***
(Francisco José Viegas)

Sem comentários: