quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pequeno diário da palavra


Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa claridade
de onde as formigas emigram.
*
Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.
Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.
*
O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.
*
Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas do terreiro.
Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar sem doer um grão de arroz
por sob a língua.
*
Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.
*
Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.
***
(Iacyr Anderson Freitas)

1 comentário:

TECENDO PENSAMENTOS disse...

Uma maravilha de versejar, parabéns sempre.Valeu poeta.