segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Anos sem fim, à luz do mar aceso


Anos sem fim, à luz do mar aceso,
te vi nudez quase total, tão grácil
figura juvenil, ambígua e fácil,
e ao longe às vezes totalmente nua
em só relance de malícia crua.
Tudo isso me atraía e me afastava,
embora a vista retornando escrava,
a teus lugares me tivesse preso.
E quase sempre então tua figura,
sentada estátua, ou falsa sesta impura,
lá era, ao sol, o tempo congelado.
Hoje, subitamente, tu não viste
ninguém senão o meu olhar quebrado,
e com lenta inocência te despiste.
Mas quantas rugas no sorriso ansiado!
***
(Jorge de Sena)

2 comentários:

josé luís disse...

por vezes o decurso do tempo é assim:
um dia, vemos que passaram anos sem fim

[grande poema]

Cristiana disse...

Chega a parecer que nem demos pelo tempo a passar.
Ou que nós é que passámos por ele sem dar por ele...