quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Escrevo de pé andando



assim mesmo, sim, cabisbaixo
declamo frases prontas, teorias
na passarela, coisa de mostruário
*
(a vida pulsa nas calçadas
e o vento nos envolve
— indistintamente — ,
portas entreabertas)
*
pássaros sem asas, telefones mudos
caminhos sem destino, inquietação
— estamos no umbral sem fundo.
*
janelas sem paisagens, muros cariados,
estamos sendo devorados
e festejamos nosso conformismo
*
acho que estão nos filmando
e disfarço, busco o gesto adequado
— vou ser visto, lido
— um horror!
*
a palavra imortaliza, mas eu passo.
eu tergiverso, busco as engrenagens
e antecipo a morte — liquefaço.
*
deixo um rastro de palavras ocas
ecos de vozes instigantes, que cobram
atropelam— eu fluo e fujo, às vezes
***
(António Miranda)

Sem comentários: