É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.
*
Um pesar grãos de nada em mínima balança
Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.
*
Um desembaraçar de linhas de costura,
Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.
*
Penso em ti com tamanha ternura
Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas como o pensar te pudesses partir.
***
(António Gedeão)
2 comentários:
que coisa curiosa...
ando há tempos para juntar este poema às minhas fábulas alheias.
não sabe, mas tive o prazer e a honra de ainda ter tido rómulo de carvalho como professor de química no liceu pedro nunes (sou um rapaz já muito antigo...) e na altura nem sequer sabíamos que ele era antónio gedeão, veja lá... pouco depois reformou-se e ainda falei uma vez com ele sobre poesia e ciência.
este poema tem por título "a um ti que eu inventei" e surgiu num livro de 1967 - mas dado este anonimato que os blogues proporcionam, se gostamos de nos escrever com alguém, agora ainda se torna mais actual, não é?
e claro, com tudo isto, agora vou mesmo publicá-lo nas minhas fábulas.
Há coisas curiosas e fantásticas, não há? rsrs
Consigo vou aprendendo e descobrindo algumas coisas. Obrigada por isso.
Mas então o título que vi e transcrei está errado?
Tem toda a razão, é mesmo.
Com esta moda dos blogues que, como quase tudo na vida, tem coisas boas e más, eu retiro as boas e uma delas é precisamente o que menciona no seu comentário.
Não o anonimato, embora ele exista porque nem toda a gente me conhece (felizmente, rsrs) mas pelo prazer de falar com alguém e de até chegar a um "tu que eu inventei"...
:-)
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